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Joseph Pulitzer

sábado, 24 de agosto de 2013

Transcrição escrita das declarações de António Indjai

General Indjai diz que prefere matar-se a ser detido

Eu não vou falar muito, mas tenho uma coisa para dizer, para nós todos reflectirmos. Porque dissemos conferência nacional sobre o mal que se passou na Guiné Bissau. Agora perguntamos – o que é que isso nos valeu? Não vou falar muito, mas peço-vos que me ofereçam alguns minutos.



Com permissão do Sr Presidente da Assembleia Nacional Popular e do Primeiro-Ministro da Guiné Bissau, a Presidência do Conselho de Ministros, dos oficiais superiores, oficiais generais e representantes da sociedade civil presentes aqui na sala, vou falar desta conferência que nos vai fazer reflectir sobre o que se passou até aqui. O primeiro orador roubou-me as ideias. Se os que estão aqui presentes não pararem, a Guiné não irá a parte alguma. Para que a Guiné tome outro rumo são precisos todos os que estão aqui presentes. Não há mais ninguém  Registem bem isto.

Que cada um tome notas. Vou ler para todos aquilo que aconteceu desde a independência. Talvez haja quem disso se esqueceu. Mas o que é isso nos valeu? Nós instigamos e somos nós próprios os instigadores. A nossa população também instiga, devemos parar com isso.

Há uma frase em uso hoje que não existia na mata, mas as pessoas sabem disso e se calaram até ao dia em que soar a detonação, então diremos – se soubéssemos. Se não pararmos com isto, mais tarde haverá um problema grande na Guiné.

Já foi dito à comunidade internacional que eles  não podem estar limpos. Sabem quem são? São os Balantas que não podem estar limpos e são eles o factor de instabilidade na Guiné Bissau. Mas nós devemos parar com isso porque não é bom. As pessoas não viram o problema que aconteceu no Ruanda. Assim também, na altura da independência, as pessoas não sabiam o que foi a luta e questionavam ‘o que é a luta?’ Mas quando se passou o 7 de Junho, elas viram o que foi a luta. Nós temos que parar com isso. Isso é que provoca problemas na Guiné, nós temos que pôr o dedo na ferida. Isso é que trouxe problema na Guiné. Essa etnia não pode ter um bom carro, boa casa ou algo de bom sob pena de ser acusado de ter vendido a droga e porque ela não merece e é analfabeta. Eles falam isso. E há as eleições que vêem, onde nem se pode embarcar numa viatura e eles dizem – ‘vamos encostá-los a parede. Alguém falou-me disso de forma clara e vou citar o seu nome aqui manifestamente.

Quem é que se lembra do primeiro ano em que bombardearam a casa de Nino Vieira, onde  nós chegariamos momentos depois? No nosso regresso, formamos um batalhão que colocamos lá. Depois, fui despedir-me. Sabem o que eles me disseram? Eles disseram ‘então,  quem é que você formou?’ Eu respondi-lhes – formei guineenses. Logo me disseram – ‘queremos contar o caminho dessa etnia, que vamos encostar a parede . Ela, nós vamos encostá-la a parede’. Eles ainda dizem a mesma frase agora. Vocês sabem quem era? Eu lhe disse – A que pessoas te referes tu? ‘Ele me disse aos Balantas’. Então eu lhe disse, hm, hm, eles são numerosos no grupo, porque, se formos seleccionar as outras etnias não serão suficientes. Se fores lá, eles fazem 50 ou 60%, não posso encontrar outras pessoas para o grupo. Sabem quem foi que me disse isso? É o Cipriano Cassamá. Eu soube que ele está para se candidatar ao partido. Ora se assim fôr, como é que ele vai mandar na Guiné? Pegando noutra etnia e afastá-la? Sempre que o oiço a falar não me sinto bem. Eu lhe disse o Balanta não é culpado, eles são numerosos na Guiné, é a natureza. Eu lhe perguntei, então são os Balantas que bombardearam o Nino Vieira? Eu ainda lhe perguntei, eu que aqui estou sentado, a que etnia pertenço? (como pessoas presentes ele chamou Caramó e o João Monteiro). Camaradas, paremos de dizer isso. Porque, se não pararmos a coisa vai rebentar. Paremos, isso não existia na mata, onde só conheciamos a camaradagem. Hoje é que vamos conhecer etnias? Conhecer etnias só no recrutamento? Se houver dez Balantas, os outros terão de ser dez  Mandingas, dez Bijagós, eu penso que as outras etnias não terão o número suficiente. Aquelas pessoas que tingem o pano, os Saraculés, são muito poucos na Guiné, inclusive os Padjadincas. Porque vamos incluir todos. É isso que disseram.

Vou contar-vos um segredo. É a comunidade internacional que veio com essa proposta. Patinando o processo de reforma, ela propôs que 65 Balantas terão de sair da tropa. Ela ainda não ousou levar a proposta à luz do dia, mas ela há-de patenteá-la sem tardar.

Fui confrontado com esta ideia no Burkina Faso, na Costa do Marfim e na Nigéria. Eles perguntaram-me – ‘quantos elementos da etnia Balanta estão na tropa?’ Eu lhes respondi, ‘ah, eles são numerosos’. Então eles disseram-me – ‘então isso é que está a criar problemas na Guiné’. Eu perguntei-lhes – ‘como é que puderam saber disso?’ Eles disseram-me – ‘através do actual Governo’. Eu disse-lhes ‘eles são numerosos e nunca estão nos bons lugares. São os varredores da Câmara Municipal de Bissau’. Disso ninguém fala. É isso que eu vos queria falar, dos acontecimentos da Guiné.

O primeiro caso de tentativa de golpe de estado no país aconteceu em 1978, com o Malam Sanhá, que foi preso na Bissalanca. O segundo caso foi o 14 de Niovembro de 1980, com o Nino Vieira que derrubou o Presidente Luis Cabral. O terceiro caso surgiu em 1982, com um grupo encabeçado pelo capitão Cobnaté Na Bringue Bandé, que foram presos, espancados e mortos. A quarta tentativa foi em 1984 registou-se uma acusação falsa contra altos oficiais das forças armadas, que culminou com a detenção de vários oficiais e sua execução pela segurança do estado, embora alguns que conseguiram escapar. É o caso conhecido sob a apelação 17 de Outubro. O outro caso, o quinto, aconteceu com o camarada ex-Primeiro-ministro Francisco Mendes, morto em Bambadinca, depois foi acusado acidente de viação. O que é que tudo isso nos valeu? A sexta tentativa é o famoso caso 17 de Outubro de 1985, que rebentou com as forças armadas, onde até mulheres foram presas, torturadas com vários camaradas até serem mortos – caso de Viriato Pan, Paulo Correia entre outros. Com esses nomes Na, Na, Na, lá é que começaram as coisas. Outro caso é o 17 de Março de 1993, com camarada major Robalo Pina que foi morto na Presidência da República antes de o seu corpo ser transportado para  outro lugar. Outro ainda, é o 7 de Junho de 1998, que culminou com a morte do Brigadeiro Ansumane Mané. Há também 22-23 de Novembro durante o qual foi morto Ansumane Mané. Basta.

Temos o caso relacionado com o Almame Alan Camará, que acabou por morrer afogado numa travessia. Temos o caso 14 de Setembro de 2003, que derrubou o presidente eleito Kumba Ialá. O que é que isso nos valeu. Não levou a nada. Temos o 6 de Outubro de 2003, houve levantanmento militar que levou a morte do CEMGFA Veríssimo Correia Seabra. Em 24 de Junho de 2005, a juventude do PRS numa manifestação política foram mortos pela polícia. Ainda em 2005, registou-se um assalto ao Ministério do Interior e no mesmo ano houve tentativa de golpe de estado protagonizado por Bubo Na Tchuto. No dia 22 de Novembro de 2008 regista-se um ataque à residência do Presidente João Bernardo Vieira. Por isso é que não gosto do Cipriano Cassamá. Não sei se ele é guineense e não me sinto bem com ele. Ele fala em outras tribos. Ele não é pessoa humana. Em 2009, registou-se a morte do Batista Tagme Na Waié e no dia 4 a 5 de Junho, foram mortos Hélder Proença e o major Baciro Dabó acusados de tentativa de golpe de estado.

A 1 de Abril de 2010, houve uma complicação entre o CEMGFA e o seu vice-chefe de EMGFA, entre Zamora Induta e eu mesmo Antonio Indjai. E qual é o resultado de tudo isso? Voltamos ao zero. No dia 26 de Dezembro de 2011 houve um golpe de estado contra o Primeiro-Ministro e o CEMGFA que é António Indjai, vendedor da droga, por isso o seu golpe não foi aceite.

Recentemente, o Bubo Na Tchuto foi detido por americanos no nosso território e finalmente, a 12 de Abril de 2012, houve este golpe de estado e o caso do capitão Pansau Ntchama, que provocou várias mortes. O Braima Sow disse que fui eu quem entregou a droga a rapaziada Felupe, que vendeu a droga e os matei na minha quinta por me terem apresentado dinheiro insuficiente. Eu soube que ele criou um partido, eu não lhe perdoarei neste e noutro mundo. Eu tenho que levá-lo à justiça, ele terá de me dizer de onde é que saiu com a tal informação. Se não, ele não participará na campanha, enquanto eu sou o CEMGFA. Far-lhe-ei uma emboscada com uma catana e acutilá-lo-ei se não puder levá-lo à justiça.

Camaradas, o que é que nos valeram todos esses casos? Porque é que continuamos a criar confusões e não dissemos basta. A sociedade civil tem que falar, camaradas jornalistas falem e informem as pessoas do que se passou na Guiné.

Digam aos governantes que, se eles governam, que deixem de instigar. Porque é isso que traz essas coisas. Este último golpe foram eles e a sociedade civil que o trouxeram. Ao regressar do Burkina Faso em companhia de Raimundo Pereira, eu convoquei uma reunião que decorreu na ANP, onde defendi que era chegada a hora para buscarmos uma saída e convocasse todas as religiões, a sociedade civil, a Liga Guineense de Direitos Humanos para todos em conjunto buscarmos soluções para que o país ficasse em paz, para que as pessoas se falassem, mas calaram-se.

Eu disse a CEDEAO que, se não havia maneira de continuar, então que apagasse o fumo antes do fogo, e para que dissesse aos governantes que as  armas de Angola fossem retornadas. Se as armas não eram retornadas então que fossem entregues a nós porque eram nossas. Mas, eles se calaram e logo que o golpe se deu, tudo começou – condenações. Então, vocês não fizeram o que nós haviamos prevenido? Antes de se pôr a condenar, fale para que a coisa seja. Mas, se calaram e os governantes e a ANP também.

Eis que, mais uma vez, estão nos puxando mais para uma coisa e se diz que o CADOGO filho está para voltar e vocês se calaram de novo. Então, que se aguarde até que ele venha, para depois se porem a condenar. Que ele venha, ele também é guineense, mas que assegure ele mesmo a sua segurança. Fala-se, enquanto a sociedade civil e a Liga se calaram. Claro que ela não tem armas, mas ela tem o papel fundamental que é a falar. Eu sei que há a metade de entre nós que está a favor dele e a outra contra. Nós sabemos disso. Eu conheço as caras de cada um, umas são amarelas, algumas vermelhas e as outras pretas. Todas estão aqui, eu não me envergonho de ninguém e o dia em que eu me envergonhar de alguém que eu morra. Por isso é que as pessoas dizem que eu sou radical e que eu seja afastado. Eu ouvi na rádio e na internet que o António vai se demitir e entregar a função a Tomas Djassi – Eu jamais me demitirei, os americanos terão de vir prender-me aqui porque eles costumam prender-nos aqui na nossa terra por sermos Balantas e nós é que prejudicamos a Guiné. Há-de chegar a hora em que serei demitido legalmente por um presidente eleito, porque a função não é casa do meu pai, nem Encheia nem Mpotche. Nem fui nomeado aqui para ser eterno. Eu não sou mudo, eu oiço dizer que não sou esperto – como posso não ser esperto enquanto fiz a academia? Sabeis quantos anos eu fiz em Cuba? Eu regressei de lá com um diploma vermelho. Conheço muito a tropa e em Cuba falou-se comigo em língua espanhola. Noutro dia, eu ouvi dizer ‘aquela etnia analfabeta que se apoderou do poder’. Alguém ligou para a Rádio Sol Mansi, a amaldiçoada que já não é política, mas de traição. Alguém ligou para lá a dizer ‘enquanto aquela gente não sair’ essa é apelação que nos dão agora. Mas, desta vez, nós vamos mostrar-lhes o seu lugar, o CADOGO (filho) vai estar de volta. Foi num dabate de traição. Mas, Deus é grande, que Ele derrame gelo aqui e que a Guiné tome finalmente o seu rumo e que as eleições corram da melhor forma, que Deus nos junte para que possamos votar naquele que pode mandar neste país. Mas que não seja um presidente tribal nem um primeiro-ministro tribal, mas que seja guineense e um primeiro-ministro que saiba nomear com certeza.

Hoje, na educação, se você tiver os nomes de Mbana e Ndafa, nunca poderá conseguir uma bolsa de estudos mesmo neste governo, sobretudo no tempo de Vicente Pungura. Eles começaram a matar-nos politicamente.

Esta conferência nos vai tirar de várias situações. Eu solicito a sociedade da Guiné Bissau, e aos governantes  para todos possamos dizer basta e que sigamos para as eleições de bom coração.

Estas eleições que vêm, se não houver teimosia, não haverá guerra, mas serão eleições conturbadas. Não me desmintam, eu tenho a capacidade de ver as coisas vindouras. Se a sua etnia fôr minoritária, então não se candidate. Você não passará.

As pessoas foram governar sem defenderem o nosso país e estão lá só por causa do dinheiro. Alguém busca chegar ao poder só para comer o dinheiro do estado. Sobe-se ao poder hoje e amanhã é já um problema.

Não há segurança. O Pansau Ntchama veio até aqui, passeou a vontade até ao dia em que disparou tiros. As pessoas que detiveram o Bubo Na Tchuto passearam aqui até jantaram connosco. Se eu não fosse esperto, é a mim mesmo que eles teriam prendido primeiro. Querem saber como andei com eles? Ele vieram até ao meu gabinete e perguntaram se eu queria algo, eu lhes disse que queria seis carros para os oficiais. Ele prometeu dar-me 12 carros. Disseram fardamento militar, eu quis 6 mil, ao que ele duplicou para 12 mil. Ele duplicava cada coisa pedida. E me disse ainda que me ia dar dinheiro para a obra de construções habitacionais para os oficiais que iam à reforma. Fui com ele até a localidade de Antula perto da Universidade. Onde eu comecei a desconfiar dele foi logo que ele se pôs a protelar sempre suas promessas, até eu ter seguido para o Burkina Faso. Depois, ele me ligou e lhe pedi para que se avistasse com o Ministro da Defesa. Informei do caso ao Presidente e ao Primeiro-Ministro. Em consequência, eu disse-lhe, com tudo isso que nos vai dar, qual vai ser a nossa contrapartida? Ele disse – ‘não, eu estou apenas a ajudar’. Então, eu lhe disse tu és muito rico! Então eu fui, e ele me disse que o navio havia acostado. Com isso, eu lhe solicitei para que mandasse o manifesto da carga que o navio transportava, para que fosse orientado a partir do ilheu do Pontão. Depois, ele aparece a dizer que o navio havia sofrido uma avaria. Eu disse-lhe, então façam a sua reparação para depois virem até Bissau.

Há muita falta de respeito na Guiné Bissau. Quando eu ouço isso pela rádio eu fico a rir a inocência da Guiné Bissau e fico a dizer também, se a Guiné Bissau soubesse o que é a inter-arma, é lá onde eu vou apanhar os americanos. Todos se calaram e ficaram a aguardar o dia em que eu serei detido. Mas eu vos digo publicamente que ninguém me vai prender com as suas mãos. Eu matar-me-ei. Eu odeio brancos e pessoas de pele clara, porque eu sei como é que mataram o meu pai no início da luta sob os meus olhares, e depois impediram que o seu corpo tivesse sepultara e foi totalmente consumido por aves de rapina.

Bissau 15-08-13


2 comentários:

  1. seria bom e levar algumas contigo

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  2. Mais purque que ele so falou no primeiro assalto a residencia do ex presidente da republica Nino vieira e nao falou da segunde à que ele foi brutalmente assacinado vejao so ele ate falou da morte do Batista Tagme Na Waié, ecis dois forao assassinados quase no mesmo dia e muito mais...

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