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Joseph Pulitzer

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A. Cabral: "Resistência Económica" (IV - IX)


RESISTÊNCIA ECONÓMICA - Amílcar Cabral
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( IV )
 
Bombardeamentos, napalm, assaltos com helicópteros para aterrorizar a população, para a população abandonar o nosso país mesmo para o Senegal ou para a República da Guiné. Para os tugas é melhor, porque assim essa população não atrapalha nas nossas áreas libertadas, para nos dar aqueles meios necessários para aguentarmos economicamente a luta. Mas se isso não chega, se a população se esconde bem, não aceitando o que ele deseja, então queimam as nossas colheitas e as nossas tabancas, destroem tudo, matam as nossas vacas, qualquer bicho que vêem a mexer, matam-no. E como criminosos que são, matam a nossa população, crianças, mulheres, velhos, quanto mais homens válidos. Tudo isso não só por causa da guerra, não, é para destruir, para acabar com a nossa resistência económica, porque os tugas sabem, como nós, que se não tivermos meios económicos dentro da nossa terra, para aguentarmos a luta, se não tivermos comida, possibilidade de termos comida para o nosso povo e para os nossos combatentes, não pode haver guerra, não pode haver, luta, camaradas.

O inimigo, portanto, faz tudo o que pode, e mesmo em relação a medicamentos e outras coisas, tecidos, que arranjamos para a nossa gente, para os Armazéns do Povo, para os hospitais, etç., ele faz força para acabar com isso, para destruir. Uma das grandes derrotas do inimigo no plano económico o facto de termos conseguido instalar, nalgumas áreas, armazéns do povo, levar tecidos, calçado e outras coisas de que o nosso povo precisa. O desejo dos tugas é descobrir isso para queimar o mais depressa possível. Porque ele sabe que isso é uma força económica nossa e traduz-se sempre numa nova força política no quadro da nossa luta.

Para evitar a nossa resistência económica, os tugas estão dispostos a queimar completamente a nossa terra, se for preciso, a fazer a política de terra queimada, a reduzir tudo a cinzas, só para não ganharmos a nossa luta. Temos, portanto, que estar vigilantes em relação a isso e temos que saber bem o que devemos fazer, diante dessa intenção criminosa dos tugas, da qual ele tem dado provas nalgumas áreas da nossa terra. Temos que lutar economicamente a sério.

Por isso, desde o começo, o nosso Partido tem pensado e tem procurado fazer um programa para a nossa resistência económica. Claro que temos que adaptá-lo às nossas condições, da melhor maneira. E devemos mobilizar todas as nossas forças para a nossa resistência económica, sobretudo as forças da nossa população, dos nossos militantes nas tabancas, nas nossas áreas libertadas. Ao mesmo tempo, devemos reforçar cada dia mais a destruição da economia colonial do nosso inimigo, enquanto nós devemos fazer planos seguros para aumentar a nossa produção, tanto a produção agrícola, como o artesanato e outras coisas da nossa terra. Devemos procurar destruir os meios económicos do inimigo, os seus carros, as suas fábricas, os seus depósitos, os seus armazéns, os seus barcos, as suas estradas, para cortar completamente a sua exploração económica na nossa terra.

Os camaradas viram que nós começamos mesmo com a sabotagem de estradas, pontes e tudo o mais. Esse foi o primeiro acto de resistência económica, que também é política e militar, que nós fizemos contra o inimigo colonialista. E mesmo nós, numa área dada, se o inimigo instalado de tal maneira, que só se nós queimarmos tudo é que poderemos fazê-lo sair, temos o direito de o fazer, porque a terra é nossa. É preferível queimarmos uma área completamente para tirar os tugas e depois trabalharmos para a reconstruir-mos, do que não lhe tocarmos e os tugas ficarem lá eternamente dominando o nosso povo. Temos que ter consciência disso, embora na nossa luta tenhamos que estabelecer tácticas de tal maneira que possamos reduzir ao mínimo a necessidade de destruir coisas que, embora sob a dominação colonial, foi o nosso povo quem as fez.

Essa tem sido, aliás, a política do nosso Partido. Devemos compreender, no trabalho do nosso Partido, a necessidade grande de destruir todos os meios de abastecimento dos tugas. Foi por isso que nós insistimos tanto nos ataques aos barcos nos rios, ataques aos camiões nas estradas, porque os barcos e os camiões abastecem a guerra mas também servem a economia do inimigo. Na medida em que atacamos barcos e camiões atacamos o inimigo, tanto do ponto de vista militar, como. O que é muito importante, do ponto de vista económico. Devemos fazer o possível na nossa terra, na nossa luta, como temos tentado, mas devemos reforçar cada dia mais, por levantar a nossa economia, mesmo com a guerra, mas levantá-la para melhorarmos as condições de vida da nossa terra, e devemos fazer o máximo de força que pudermos para cada dia dependermos menos das coisas que vêm de fora da nossa terra, quer dizer, para procurarmos bastar-nos a nós mesmos.

O Partido deu palavras de ordem importantes no sentido de desenvolvermos a nossa agricultura, de melhorar-mos a nossa produção, aumentar a produção de agricultura, fazer outras coisas como obras de artesanato, mesmo passar a fazer mais sabão dentro da nossa terra, procurar desenvolver todas as industrias caseira da nossa população.
(Continua)




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