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Joseph Pulitzer

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Direito à indignação

O desenvolvimento de um país não se mede pela sua riqueza, mas pela qualidade de vida das populações.

 
 
Qualidade de vida das populações, é resolver o problema das desigualdades sociais, a falta de programas de planeamento familiar, a falta de condições sanitárias, a falta de serviços básicos: como a saúde e educação, a falta de água potável, as guerras étnicas, as epidemias, etc.


Apesar de a Guiné Bissau permanecer na cauda dos mais pobres em matéria de desenvolvimento, os políticos acham que devem ter os mesmos rendimentos dos seus homólogos de países ricos. Mesmo em tempo de crise não renunciam aos seus privilégios.

Os sucessivos executivos nunca justificaram os salários e regalias que têm auferido.
A qualidade do serviço prestado espelha-se num país falido, de cofres esvaziados.
O Estado paga salários de luxo a deputados, a membros do governo e a oficiais do exército. Distribui bónus, prémios de má gestão, aumenta regalias, oferece viagens, carros e habitações de luxo, paga combustível, electricidade, gás e água, fornece geradores, sustenta o número de filhos dos gestores, garante a imunidade, o que muito tem contrastado com a realidade do país.

As políticas salariais sempre foram e continuam a ser muito individualizadas, enriquecendo sobretudo os executivos e as elites militares. Não há dinheiro que bonde para acudir a todas as excentricidades dos mandantes. Vivem num oásis de luxo, intocáveis, tudo construído à custa do erário público.

A maioria dos quadros formados não são integrados no mercado de trabalho e os que são, não recebem uma remuneração compatível com o seu grau de formação. Não se compreende a razão de estarem no desemprego, quando há pessoas a trabalhar sem formação.

Não faz sentido o país ter cerca de 60% de deputados analfabetos que só servem para preencher lugares. Não são eleitos pelo povo, mas sim pelo partido vencedor das eleições. Esses deputados são designados pelo governo como representantes do povo. Não o são e não poderiam ser os seus representantes; eles são unicamente, os seus agentes.

Um deputado é eleito para zelar pela coisa pública. Tem que possuir discernimento ter capacidade suficiente para a compreensão e conhecimento dos interesses colectivos do Estado. Como se pode conferir o direito de aprovar projectos de lei sobre os mais variados assuntos duma assembleia cuja maioria dos seus membros não dispõe de formação académica básica?

Fustigado e arruinado pela força da corrupção, o país está condenado à insustentabilidade e ao parasitismo do Estado. Não se engane, defender a riqueza individual acumulada é muito diferente de defender a soberania, a Constituição, o país, bem como o seu povo.

Como pode um operário desqualificado ganhar e ter regalias superiores a um quadro superior! É uma situação indigna para técnicos qualificados e de quem se exige um trabalho especializado e de alto grau de responsabilidade. O governo não pode.permanecer indiferente a estas situações.

Desde a independência que os valores ensinados pela escola têm sido ignorados e até mesmo combatidos pelos ditos revolucionários., Nesta disputa intolerável os formados têm sido preteridos pelos seus opositores e correm o risco de verem as suas consciências envenenadas, mutiladas, conduzidas e induzidas.

Como pode um país pobre, onde o Estado está falido, as empresas estatais e privadas falidas, uma crise cambial que impede ao país de honrar a sua dívida externa, auferir a cúpula ordenados 30, 50 ou cem vezes maior que o de um técnico!

Nenhum executivo tem o direito de ganhar num mês mais do que seus subordinados ganham num ano. As grandes desproporções entre rendimentos dos gestores e dos seus trabalhadores põem em causa a paz e a coesão social. É preciso auto-contenção dos mesmos, pois as remunerações que usufruem são escandalosas.

Com o novo governo esperava-se contenção nos gastos, mas tem sido uma decepção. É inadmissível que todo o dinheiro gerado pelo Estado vá para pagar, satisfazer a ganância e o luxo dos mandatários da Nação.

A sociedade guineense deveria enviar uma mensagem clara aos executivos: já não tolerar seus avultados salários e bonificações. A indignação pública deveria ser enorme. Tem que se impor limites à liberdade de executivos e conselheiros de administração de autofixarem seus salários, bónus e indemnizações.
 
 
 (Otílio Camacho, jan/2015)

 

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